Existe muitos textos – alguns maravilhosos outros nãos – falando sobre sobre o “sincretismo” religioso… sincretismo religioso, é quando um sistema de fé, absorve outro sistema de fé, de modo que os dois se tornem um só, convivendo de forma harmônica.
Geralmente esses sincretismos acontecem ou melhor, ocorrem, quando determinada cultura é coloca diretamente em contato com outra. Em alguns casos ocorre um certo “colonialismo cultural” isso é quando uma cultura, se sobrepõe a outra de modo que, a que foi sobreposta prevaleça, abafando qualquer traço na antiga cultura existente no local – a exemplo disso temos o cristianismo, uma cultura muito forte mundialmente, que por seu sistema de abordagem e características, acaba abafando as culturas ao qual se sobrepõe.
Mas esse texto tem o intuito de falar sobre um tipo especifico de sincretismo religioso, quando um santo ou deus, se sobrepõe a outro… abafando aquela existência no local. Por exemplo, para muitos Nossa Senhora das Graças é Oxum, ao chegar na casa de uma pessoa de “terreiro” ou de religião, irei ver em sua imagem de Nossa Senhora Aparecida, o rosto de Oxum… mas se uma pessoa que é de religião cristã, chegar na casa dessa mesma pessoa, irá ver Nossa Senhora Aparecida…
Quando os muitos negros escravizados chegaram aqui, no Brasil – Colônia de Portugal -, trouxeram com eles todos os seus Deuses, que eram chamados de Orixás, os Orixás, eram seus antepassados, eles tinham sangue santo… o senhoril, não gostando do culto negro, por acharem que era danoso, permissivo e venenoso a suas próprias praticas, acabaram abolindo as praticas… os negros para preservar suas culturais de raiz, eles transformaram seu Orixás, em santos, de modo que esses ficassem camuflados nas estatuas de madeira e pedra… aos olhos de fora, eles eram um tipo de ser, mas ao olhos do coração, do sentimento… eles eram outros, eram os Deuses de suas terras…
Millo Ringaud escreveu um livro chamado VE-VE, onde ele fala muito sobre a cultura do Vodu… o mesmo aconteceu com os escravos que chegaram no Haiti – que era uma colônia da França… – os negros, transformaram seus Loas em Santos… para preservar a cultura… Millo diz que o termo certo não é “Sincretismo” pois não há como transformar um ser em outro, o certo é dizer “Simbiose”, aqui voltamos aquele ponto la em cima, onde falei sobre ao chegar na casa de uma pessoa que pratica um culto afro, e ver Oxum… duas divindades podem morar nos mesmos aposentos, terem os mesmos poderes e serem forças distintas… acho que é aqui que vemos a primeira prova do convívio pacifico entre as culturas que se permitem isso.
Muitos pesquisadores e estudiosos de nossa cultura (seja pagã, seja afro…), diz que é errado exercer vários cultos no mesmo local, por vários fatores, e o mais primordial é o choque entre egrégoras… concordo particularmente com esse pensamento. O choque entre egrégoras pode ser muito danoso ao praticante. O interessante é fazer os cultos em dias separados, e fazer sempre limpezas espirituais no local – tanto para receber seres de um povo e cultura, quanto de outros povos e culturas, isso é sinal de respeito… afinal, como receber convidados para festejar em um local sujo?! Né mesmo?!
Você pode ter um altar com várias divindades, e pode sim acender suas velas para todas elas no mesmo local – quando essas velas forem para agradecer, para dizer que você é isso: grato. Mas quando você for fazer um trabalho especifico, por exemplo: para o amor, sobre o altar que tem várias estatuas (que são pontos onde os seres se firmam), e pedir ajuda de determinados seres, não chame seres de culturas diferentes para te atender, afinal, eles trabalham de forma diferentes, e isso pode atrapalhar ao invés de ajudar o seu desejo final.
Ter uma imagem de um santo e dizer que é um Orixá, não é errado… errado é você fazer uma oferenda de orixá, para um santo… fazer uma oferenda de um santo para um orixá… são coisas distintas – por isso é uma simbiose, eles não são o mesmo ser, são energias distintas que habitam a mesma casa.
Você pode ter uma imagem de São Jorge para representar Ogoun, e também Marte, Ares, são divindades guerreiras, mas não são a mesma divindades… e ainda sim, você pode amar as quatro – e por mais que você queira, elas não são a mesma divindade.
Você pode ter uma imagem de Nossa Senhora das Graças para representar Oxum, Afrodite, Vênus, Erzulie Freda… mas elas são divindades distintas, cada uma referente a uma cultura… não são a mesma divindade… é muito importante respeitar cada ser como cada ser – por mais que eles se pareçam, tenham poderes iguais, tenham forças iguais, vejam, eles se manifestaram de forma diferentes em culturas diferentes porque queriam ser vistos como forças diferentes… é importante saber o que é o que. Até porque não podemos deixar nosso ego, nossos desejos, nossos anseios, nossas vontades, se sobrepor ao que os Deuses, Loa, Orixás, querem…
Se você for fazer uma oferenda a um Orixá, saiba o que ele gosta… se for a um Deus, saiba do que ele gosta… se for um Loa, saiba do que ele gosta… por exemplo, Oxum é uma divindade das águas, habita a escuridão das profundezas, ela não gosta de fogo, então não adianta oferecer velas – ela é um ser aquático, ela é uma sereia… quando acendo uma vela ou outra, e ofereço a esse ser, eu sempre digo “Ofereço a ti, a chama dessa vela, o que ela representa, seu brilho, sua força, seu poder espiritual…” no Vodu, sempre colocamos velas entre as oferendas, nas frutas, nos alimentos… a chama da vela, e a vibração da cor, tem o poder de levar desse plano, as energias que estão nos alimentos e em outras oferendas, com maior facilidade para o outro lado (que como alguns dizem, em um processo chamado “arborizar”)
Fico por aqui.
Kefron Primeiro